Risco de violência é maior para jovens em Linhares e Serra no Espírito Santo e em Itabuna, Camaçari, Teixeira de Freitas, Ilhéus e Porto Seguro na Bahia
Fontes: A Gazeta - Geraldo Nascimento - ES e Daniel Thame - Itabuna-Ba
Foto de Itabuna: Juarez Brandão
Linhares e Serra estão na lista das dez cidades do país onde os jovens estão mais vulneráveis à violência. Os Estados do Espírito Santo e Pernambuco têm duas cidades cada um nesse ranking. A Bahia tem três - inclusive a primeira, Itabuna - e as outras estão no Paraná, no Pará e em Minas Gerais. Os dois municípios capixabas com o risco mais alto estão na 9ª e na 10ª posições, num total de 266 cidades com mais de 100 mil habitantes no país - abrangência da pesquisa.
O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJ) foi elaborado levando-se em conta indicadores de homicídios; mortes por acidentes de trânsito; frequência à escola e emprego; pobreza e desigualdade. As cidades de Cariacica e São Mateus também aparecem no ranking, mas num nível abaixo dos municípios com alta vulnerabilidade. A pesquisa foi realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Ministério da Justiça, com apoio de Organizações Não-Governamentais. A proposta foi reunir, num único índice, variáveis que ajudem a explicar a associação e envolvimento de jovens com a violência, e oferecer uma ferramenta aos gestores locais para avaliar as políticas voltadas para o público jovem e a prevenção da violência.
Percepção
O trabalho foi feito dentro do projeto Juventude e Prevenção da Violência, e também contemplou informações dos jovens sobre percepção da violência a que estão expostos. Para o padre Kelder Brandão, pároco da região de São Pedro, em Vitória - área incluída no Pronasci, cujos jovens também responderam à pesquisa do ministério -, é importante o tratamento da questão sob a visão também da desigualdade, da educação, e do nível de renda. “Essa questão da violência não pode ser tratada de modo isolado. Temos que olhar para os jovens e ver o que estão dizendo para a gente com essa violência. Estamos numa sociedade excludente, que prioriza o consumo. A falta de políticas públicas adequadas também leva a essa realidade. Algo está errado, e é preciso agir considerando o contexto”, observou o padre Brandão.
As prefeituras dos municípios que aparecem no ranking dizem que estão investindo em projetos focados nos jovens, e que já começam a perceber resultados. O governo do estadual também garante que está observando mudanças na realidade registrada no Espírito Santo.
Violência x Juventude
O estudo foi encomendado pelo Ministério da Justiça e ouviu 5.185 jovens, em 266 municípios do país. Brasil
30,3% dos jovens pesquisados, com idades entre 12 a 29 anos, já sofreram violência e são considerados jovens em risco; 69,7% têm baixo risco de violência. De todos os jovens ouvidos na pesquisa, mais da metade - 55% disseram que já viram corpos de pessoas assassinadas. Esse índice aumenta para 88% entre os jovens que fazem parte do grupo exposto à violência; 30% dos que fazem parte do grupo de risco disseram já ter visto mais de 7 pessoas mortas (em momentos distintos); outros 8% tiveram parentes assassinados; 31% de todos os jovens ouvidos consideram que é fácil comprar armas de fogo; 64,1% dos jovens expostos à violência já viram alguém armado na rua, sem ser policial; 24% da população jovem declarou já ter visto alguém sendo assassinado; 19 a 24 anos é a faixa etária que mais corre risco, O risco é maior também para os jovens que não trabalham e não estudam, R$ 930 é o valor da renda familiar mensal da maior parte dos jovens que participaram da pesquisa.
Vitória
63,3% dos jovens em risco de violência já viram corpos de pessoas assassinadas; 46% destes viram alguém andando armado na rua, sem ser policial; 29,6% de todos os jovens entrevistados disseram já ter visto policiais intimidando alguém; 24,5% destes também disseram já ter visto pessoas sendo mortas por arma de fogo.
Ranking onde o risco para os jovens é mais alto
1ª Itabuna (BA); 2ª Marabá (PA); 3ª Foz do Iguaçu (PR); 4ª Camaçari (BA); 5ª Governador Valadares (MG); 6ª Cabo de Santo Agostinho (PE); 7ª Jaboatão dos Guararapes (PE); 8ª Teixeira de Freitas (BA); 9ª Linhares (ES) e 10ª Serra (ES).
Outras cidades baianas representativas na violência contra jovens: Ilhéus, que ocupa a 12ª posição, Lauro de Freitas (14ª), Porto Seguro (29ª) e Feira de Santana (38ª).
São violentas também as demais cidades avaliadas no Estado do ES: 16ª Cariacica; 26ª São Mateus; 98ª Vila Velha; 107ª Vitória; 154ª Cachoeiro de Itapemirim; 168ª Colatina e 186ª Guarapari.
Municípios com risco para jovens garantem investimentos
Os municípios de Linhares e da Serra informaram que estão investindo em ações de inclusão social, qualificação profissional e geração de emprego e renda como forma de fazer cair os índices que os colocam em posição desfavorável no ranking das cidades que mais expõem seus jovens à violência. O prefeito de Linhares, Guerino Zanon, (Foto) diz que por meio de estudos está em busca das saídas para o problema, sem deixar de colocar em prática ações concretas. Uma das ações da prefeitura será a construção de estádios de futebol na periferia, cada um com 600 lugares nas arquibancadas, a um custo unitário de R$ 450 mil. Ao todo, serão 14 até 2012. Quatro já estão em construção.
Mais da metade já viu mortes Essa é uma situação que chama a atenção de lideranças comunitárias, como o presidente da Associação de Moradores do Bairro das Laranjeiras, na Serra, Valdécio Antônio de Paula. Segundo ele, para mudar essa rotina é preciso esforço concentrado das pessoas, governo, e sociedade civil.“A mudança vem pela educação. E tem que ser educação de qualidade, com apoio e sustentação. Hoje em dia, essa banalização do crime acaba estimulando os nossos jovens, à medida em que não há punição adequada”, observou o líder comunitário.
Psicólogo orienta sobre diálogo com filhos
O psicólogo Carlos Santos ficou impressionado com a quantidade de jovens que declarou já ter visto um corpo de alguém assassinado, e recomendou cuidado na análise dos dados. “É interessante que haja atenção porque o jovem tem uma veia fantasiosa, e pode falar determinadas coisas até para parecer que conhece ou sabe mais que o outro”, observou. De qualquer forma, observa o especialista, o fato de estar envolvido num ambiente de violência também ajuda na construção dessa fantasia. “Hoje observamos um nível alto de banalização da violência. Até em videogames, em jogos de computador e no dia a dia“, avalia o psicólogo. Um exemplo disso são as cenas de mães ou pais com filhos pequenos em locais de assassinato. Muitas mulheres levam as crianças para ver o corpo. “Não adianta esconder, é preciso dialogar sobre a violência com o filho, até com os mais novos, mas levar até o local, mostrar, reforça a banalização”, explicou.
Seis assassinatos em Itabuna num intervalo
inferior a 48 horas
Uma carnificina iniciada no sábado passado e encerrada no domingo, como que para “coroar” a Semana da Vergonha, em que Itabuna foi apontada como a cidade brasileira em que os jovens estão mais expostos a violência e à exclusão social. Das seis vítimas fatais, apenas uma tinha mais do que 26 anos. Jovens, com uma vida inteira pela frente, tragados por uma brutalidade sem limites, vítimas de uma guerra urbana de contornos cada vez dramáticos e violentos. Mata-se por (R$ 1) um real, mata-se por uma discussão banal, mata-se por engano. Na rua, no bar, dentro de casa. Sangue inocente e sangue de gente que descambou para a marginalidade por falta de opção. Bairros carentes transformados num barril de pólvora, que explode em assassinatos seriais, em agressões, assaltos, arrombamentos, tráfico de drogas. Uma violência onipresente, prevalecendo sobre um poder público omisso e/ou ineficaz, um sistema de segurança pública que não garante a segurança de ninguém.
Vivemos numa cidade que conta e chora as suas vítimas aos montes, que está perplexa diante de tanta violência, mas que precisa reagir, cobrar providências das autoridades competentes e exigir que se dê um basta a tanta violência, que se trate bandido com rigor e preserve a vida e a integridade dos cidadãos de bem. Uma cidade que não pode ficar de joelhos, como se estivesse diante de uma situação irreversível ou subjugada por um castigo divino, um golpe do destino. Itabuna, que já deu tantas demonstrações de altivez, precisa, mais uma vez, promover uma ampla mobilização, capaz de chamar a atenção e gerar as necessárias e imediatas providências que dêem um basta a esse banho de sangue. Paulo, Erick, Jadson, Josevaldo, Henrique e João. Quem será o próximo? Quem serão os próximos?
Fontes: A Gazeta - Geraldo Nascimento - ES e Daniel Thame - Itabuna-Ba
Foto de Itabuna: Juarez Brandão
Linhares e Serra estão na lista das dez cidades do país onde os jovens estão mais vulneráveis à violência. Os Estados do Espírito Santo e Pernambuco têm duas cidades cada um nesse ranking. A Bahia tem três - inclusive a primeira, Itabuna - e as outras estão no Paraná, no Pará e em Minas Gerais. Os dois municípios capixabas com o risco mais alto estão na 9ª e na 10ª posições, num total de 266 cidades com mais de 100 mil habitantes no país - abrangência da pesquisa.
O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJ) foi elaborado levando-se em conta indicadores de homicídios; mortes por acidentes de trânsito; frequência à escola e emprego; pobreza e desigualdade. As cidades de Cariacica e São Mateus também aparecem no ranking, mas num nível abaixo dos municípios com alta vulnerabilidade. A pesquisa foi realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Ministério da Justiça, com apoio de Organizações Não-Governamentais. A proposta foi reunir, num único índice, variáveis que ajudem a explicar a associação e envolvimento de jovens com a violência, e oferecer uma ferramenta aos gestores locais para avaliar as políticas voltadas para o público jovem e a prevenção da violência.
Percepção
O trabalho foi feito dentro do projeto Juventude e Prevenção da Violência, e também contemplou informações dos jovens sobre percepção da violência a que estão expostos. Para o padre Kelder Brandão, pároco da região de São Pedro, em Vitória - área incluída no Pronasci, cujos jovens também responderam à pesquisa do ministério -, é importante o tratamento da questão sob a visão também da desigualdade, da educação, e do nível de renda. “Essa questão da violência não pode ser tratada de modo isolado. Temos que olhar para os jovens e ver o que estão dizendo para a gente com essa violência. Estamos numa sociedade excludente, que prioriza o consumo. A falta de políticas públicas adequadas também leva a essa realidade. Algo está errado, e é preciso agir considerando o contexto”, observou o padre Brandão.
As prefeituras dos municípios que aparecem no ranking dizem que estão investindo em projetos focados nos jovens, e que já começam a perceber resultados. O governo do estadual também garante que está observando mudanças na realidade registrada no Espírito Santo.
Violência x Juventude
O estudo foi encomendado pelo Ministério da Justiça e ouviu 5.185 jovens, em 266 municípios do país. Brasil
30,3% dos jovens pesquisados, com idades entre 12 a 29 anos, já sofreram violência e são considerados jovens em risco; 69,7% têm baixo risco de violência. De todos os jovens ouvidos na pesquisa, mais da metade - 55% disseram que já viram corpos de pessoas assassinadas. Esse índice aumenta para 88% entre os jovens que fazem parte do grupo exposto à violência; 30% dos que fazem parte do grupo de risco disseram já ter visto mais de 7 pessoas mortas (em momentos distintos); outros 8% tiveram parentes assassinados; 31% de todos os jovens ouvidos consideram que é fácil comprar armas de fogo; 64,1% dos jovens expostos à violência já viram alguém armado na rua, sem ser policial; 24% da população jovem declarou já ter visto alguém sendo assassinado; 19 a 24 anos é a faixa etária que mais corre risco, O risco é maior também para os jovens que não trabalham e não estudam, R$ 930 é o valor da renda familiar mensal da maior parte dos jovens que participaram da pesquisa.
Vitória
63,3% dos jovens em risco de violência já viram corpos de pessoas assassinadas; 46% destes viram alguém andando armado na rua, sem ser policial; 29,6% de todos os jovens entrevistados disseram já ter visto policiais intimidando alguém; 24,5% destes também disseram já ter visto pessoas sendo mortas por arma de fogo.
Ranking onde o risco para os jovens é mais alto
1ª Itabuna (BA); 2ª Marabá (PA); 3ª Foz do Iguaçu (PR); 4ª Camaçari (BA); 5ª Governador Valadares (MG); 6ª Cabo de Santo Agostinho (PE); 7ª Jaboatão dos Guararapes (PE); 8ª Teixeira de Freitas (BA); 9ª Linhares (ES) e 10ª Serra (ES).
Outras cidades baianas representativas na violência contra jovens: Ilhéus, que ocupa a 12ª posição, Lauro de Freitas (14ª), Porto Seguro (29ª) e Feira de Santana (38ª).
São violentas também as demais cidades avaliadas no Estado do ES: 16ª Cariacica; 26ª São Mateus; 98ª Vila Velha; 107ª Vitória; 154ª Cachoeiro de Itapemirim; 168ª Colatina e 186ª Guarapari.
Municípios com risco para jovens garantem investimentos
Os municípios de Linhares e da Serra informaram que estão investindo em ações de inclusão social, qualificação profissional e geração de emprego e renda como forma de fazer cair os índices que os colocam em posição desfavorável no ranking das cidades que mais expõem seus jovens à violência. O prefeito de Linhares, Guerino Zanon, (Foto) diz que por meio de estudos está em busca das saídas para o problema, sem deixar de colocar em prática ações concretas. Uma das ações da prefeitura será a construção de estádios de futebol na periferia, cada um com 600 lugares nas arquibancadas, a um custo unitário de R$ 450 mil. Ao todo, serão 14 até 2012. Quatro já estão em construção.
Mais da metade já viu mortes Essa é uma situação que chama a atenção de lideranças comunitárias, como o presidente da Associação de Moradores do Bairro das Laranjeiras, na Serra, Valdécio Antônio de Paula. Segundo ele, para mudar essa rotina é preciso esforço concentrado das pessoas, governo, e sociedade civil.“A mudança vem pela educação. E tem que ser educação de qualidade, com apoio e sustentação. Hoje em dia, essa banalização do crime acaba estimulando os nossos jovens, à medida em que não há punição adequada”, observou o líder comunitário.
Psicólogo orienta sobre diálogo com filhos
O psicólogo Carlos Santos ficou impressionado com a quantidade de jovens que declarou já ter visto um corpo de alguém assassinado, e recomendou cuidado na análise dos dados. “É interessante que haja atenção porque o jovem tem uma veia fantasiosa, e pode falar determinadas coisas até para parecer que conhece ou sabe mais que o outro”, observou. De qualquer forma, observa o especialista, o fato de estar envolvido num ambiente de violência também ajuda na construção dessa fantasia. “Hoje observamos um nível alto de banalização da violência. Até em videogames, em jogos de computador e no dia a dia“, avalia o psicólogo. Um exemplo disso são as cenas de mães ou pais com filhos pequenos em locais de assassinato. Muitas mulheres levam as crianças para ver o corpo. “Não adianta esconder, é preciso dialogar sobre a violência com o filho, até com os mais novos, mas levar até o local, mostrar, reforça a banalização”, explicou.
Seis assassinatos em Itabuna num intervalo
inferior a 48 horas
Uma carnificina iniciada no sábado passado e encerrada no domingo, como que para “coroar” a Semana da Vergonha, em que Itabuna foi apontada como a cidade brasileira em que os jovens estão mais expostos a violência e à exclusão social. Das seis vítimas fatais, apenas uma tinha mais do que 26 anos. Jovens, com uma vida inteira pela frente, tragados por uma brutalidade sem limites, vítimas de uma guerra urbana de contornos cada vez dramáticos e violentos. Mata-se por (R$ 1) um real, mata-se por uma discussão banal, mata-se por engano. Na rua, no bar, dentro de casa. Sangue inocente e sangue de gente que descambou para a marginalidade por falta de opção. Bairros carentes transformados num barril de pólvora, que explode em assassinatos seriais, em agressões, assaltos, arrombamentos, tráfico de drogas. Uma violência onipresente, prevalecendo sobre um poder público omisso e/ou ineficaz, um sistema de segurança pública que não garante a segurança de ninguém.
Vivemos numa cidade que conta e chora as suas vítimas aos montes, que está perplexa diante de tanta violência, mas que precisa reagir, cobrar providências das autoridades competentes e exigir que se dê um basta a tanta violência, que se trate bandido com rigor e preserve a vida e a integridade dos cidadãos de bem. Uma cidade que não pode ficar de joelhos, como se estivesse diante de uma situação irreversível ou subjugada por um castigo divino, um golpe do destino. Itabuna, que já deu tantas demonstrações de altivez, precisa, mais uma vez, promover uma ampla mobilização, capaz de chamar a atenção e gerar as necessárias e imediatas providências que dêem um basta a esse banho de sangue. Paulo, Erick, Jadson, Josevaldo, Henrique e João. Quem será o próximo? Quem serão os próximos?
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