quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Crônica Teixeirense


Lixo e vontade política
Por A.Zarfeg

O leitor ainda deve recordar que, recentemente, Salvador ganhou o título de capital da sujeira na praia e do lixo urbano, em duas pesquisas realizadas pelo Fantástico, da Rede Globo, em sete capitais brasileiras.
Os responsáveis pela conquista do lamentável título: o descuido dos soteropolitanos em geral e a ineficiência da administração pública municipal em particular. Poder público e população, juntos, levaram a cidade à condição de capital nacional da sujeira. Gregório de Matos – se vivo fosse – seria o primeiro a criticar: “Mau cheiro do caralho!”. (Naturalmente com uma das mãos comprimindo as narinas.)
Pesquisa semelhante à realizada pelo Fantástico, hoje, apontaria Teixeira de Freitas como a cidade mais suja do extremo sul, talvez da Bahia, quiçá do Nordeste. O critério da pesquisa: cidades com mais de 100 mil habitantes. Seria mais uma triste estatística para a cidade que já figura entre as dez mais violentas para jovens no Brasil.
Ao contrário de Salvador, porém, a sujeira teixeirense tem como responsável a prefeitura, que, não se sabe por que razão, não está fazendo a limpeza pública e a coleta de lixo. Comenta-se que o prefeito dispensou os serviços da empresa de limpeza; especula-se que ele vai contratar outra, mais em conta, blablablá...
O que o cidadão – que paga seus impostos e, por direito, deveria ser tratado com o mínimo de respeito – tem a ver com o fato de a prefeitura ter dispensado os serviços da empresa de limpeza, ainda que para economizar alguns tostões? Que dispensasse mas, tão logo, pusesse outra no lugar. De preferência uma mais competente, para mostrar, na prática, a vantagem da tal substituição.
Em vez disso, a triste (e desagradável) constatação: o lixo deixou de ser recolhido. São 85 toneladas de resíduos geradas diariamente pelos teixeirenses. Nos bairros centrais e periféricos a coleta está sendo feita de maneira precária e irregular – ou nestes simplesmente inexiste. A sujeira toma conta de tudo. Os urubus fazem a festa. O mau cheiro começa a incomodar. O próximo passo será a proliferação de doenças, se a prefeitura não tomar uma providência.
Com razão, os moradores têm reclamado do descaso, especialmente através do programa “Se liga, Bocão”, da Rádio Cidade FM, que funciona como termômetro da insatisfação popular em Teixeira de Freitas. Como disse seu Caraípe – radiouvinte que liga com frequência para o programa para denunciar as carências do bairro em que mora, o Redenção –, dinheiro não falta. Falta, sim, vontade política!
A mesma vontade política que fez com que a prefeitura firmasse um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Estadual (MPE), em 2008, comprometendo-se a instalar inicialmente 20 contêineres, depois mais 40 unidades, em pontos estratégicos da cidade, para a chamada coleta seletiva de lixo. Cada contêiner está identificado conforme a natureza do resíduo: papel, plástico, vidro, metal.
Os contêineres, que custaram uma fortuna aos cofres públicos, estão abandonados e ociosos por aí. Pelo visto, faltou vontade política para a prometida campanha educativa para ensinar o povo – por meio das rádios, jornais, panfletos e cartilhas – a separar o lixo gerado nas residências. E, assim, a fazer o uso correto dos tais equipamentos. Porque, sem educação, sem preparo e conscientização, é impossível colocar em prática uma campanha dessa magnitude.
Pensando bem, fica muito difícil falar em coleta seletiva, em conscientização ambiental, quando falta vontade política. Quando o poder público não consegue sequer fazer a limpeza nas ruas da cidade!
A. Zarfeg é graduado em Letras, associado à União Brasileira de Escritores (UBE) e autor dos livros Rápidos & Diretos (crônicas), Água Preta (poemas), A primeira vez de Z. (contos) e ZARFEGUIAN@S (coletânea). Possui pelo menos uma dúzia de poemas musicados por Clauduarte Sá, músico baiano radicado nos EUA. Zarfeg mantém o blog: http://versoeprosa.ning.com/profile/AZarfeg
E-mail: azarfeg@ube.org.br

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